Jeanderson Souza conta como a produção de cacau tem construído uma experiência coletiva de ajudar a preservar e a reflorestar a Mata Atlântica
O Brasil é atualmente o sétimo maior produtor de cacau no mundo, com uma produção aproximada de 200 mil toneladas por ano. Conheça a experiência produtiva de plantações de cacau na Bahia, que usam técnicas agroflorestais que visem a boa produtividade, mas também a cobertura do dossel e a saúde do solo e das florestas, preservando e reflorestando a Mata Atlântica.
A experiência integra a celebração do Dia Internacional do Cooperativismo comemorado todos os anos no primeiro sábado do mês do julho, pela União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias (Unicopas), que resgata a importância do cooperativismo solidário para o Brasil.
O dossel na floresta tropical é um ambiente de vida animal e vegetal que está acima do solo das matas, nas folhagens das árvores. O dossel é formado com a sobreposição de folhas e galhos das árvores e pode ter mais de 25 metros de altura. Se trata de um rico habitat para a vida de plantas e animais, como os macacos, sapos, pássaros, preguiças, lagartos, cobras e pequenos felinos. Por isso, se torna um importante espaço de preservação no cultivo do cacau, por exemplo, para a preservação da vida animal e vegetal da floresta.
Com a produção de amêndoas de cacau, 1200 famílias de trabalhadores(as) assentadas e acampadas do MST no estado da Bahia criaram a marca de chocolate Terra Justa, que nos últimos cinco anos vem buscando parcerias para melhorar a qualidade da amêndoa e implantando plantios agroecológicos, com um método que preserva a Mata Atlântica, com a manutenção de árvores centenárias, a exemplo da árvore de Pau Brasil de 600 anos, localizada em uma área de assentamento do MST, no município de Itamaraju. Jeanderson Souza, 34 anos, o trabalhador Sem Terra e articulador político do MST na regional Baixo Sul, no estado da Bahia, relata aspectos da história do cacau no estado e como a cultura agroflorestal está se estabelecendo na área.
Conheça a experiência do chocolate Terra Justa no relato do trabalhador Sem Terra, Jeanderson Souza
“A lavoura cacaueira no estado da Bahia está subdividida em duas fases, antes e depois da introdução da vassoura de bruxa no estado; antes era o método coronelista de produção, onde estes detinham o controle inclusive político do território. Com a introdução da vassoura de bruxa, os coronéis faliram e a lavoura deixou de ser o carro chefe do estado, deixando muitas propriedades abandonadas. A partir disso surgiram as primeiras ocupações do MST e outros movimentos sociais nestes latifúndios improdutivos e, consequentemente, o desafio do MST em recuperar essas lavouras.
Na segunda fase – o que não significa dizer que houve o fim da vassoura de bruxa – são 25 anos de avanço nos tratos culturais da lavoura cacaueira. Os acampados e assentados que antes eram trabalhadores(as) das antigas fazendas, passam a contribuir com suas experiências e parcerias governamentais, como institutos de pesquisa, para melhorar a produtividade da lavoura cacaueira, com inserção de novos clones, estudo para controle da vassoura de bruxa, etc. Hoje contamos com mais de 1200 famílias produtoras de cacau no estado da Bahia, e temos buscado nos últimos cinco anos o melhoramento da pós-colheita.
O MST tem buscado avançar em parcerias para melhorar a qualidade da amêndoa. Com tratos pós-colheita, temos conseguido dobrar o valor da amêndoa, saindo de R$200 para R$400 a R$450 a arroba, tendo motivado as famílias a buscarem essas alternativas. Mas a ausência de políticas públicas para aquisição de infraestrutura e outras ferramentas tem limitado alguns avanços. Quando nos referimos a preservação ambiental, a cultura do cacau no regime que o MST trabalha, o método de cabruca, dialoga bastante com a preservação da Mata Atlântica, pois dentro dessas áreas existem centenas de árvores que são preservadas pelas famílias Sem Terra. Recentemente apresentado nas redes sociais e meios de comunicação, o Pau Brasil de 600 anos no município de Itamaraju está localizado dentro de uma área do MST. Então a cultura do cacau tem esse viés de preservação, dialogando no debate da agroecologia que o Movimento vem trabalhando a mais de 15 anos. Outro fator importante é a inserção da juventude na unidade familiar, permitido aos jovens permanecer no campo e melhoramento das condições de vida das famílias.
A produção do chocolate Terra Justa se inicia após uma visita de agricultores na escola fábrica do CETEP Baixo Sul, localizado em Gandu, onde perceberam que era possível produzir o chocolate, haja visto que já se produz a amêndoa de qualidade. O próximo passo seria a produção propriamente dita, a primeira batelada foi de 20 kg, onde levamos para feira estadual de 2019 em Salvador. Para nossa surpresa vendemos as 800 barras no primeiro dia da feira. A partir daí temos tentado fortalecer, já registramos a marca Terra Justa, e estamos estregando a nossa produção de chocolate nos Armazéns do Campo em outros estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo horizonte, em breve outros estados estarão recebendo o nosso chocolate”.
Por um Brasil Cooperativo e Solidário: desenvolvimento e sustentabilidade
A experiência da produção do chocolate Terra Justa faz parte da série de relatos de uma cadeia produtiva justa, limpa e inclusiva, que mostram que com cooperação e solidariedade é possível gerar desenvolvimento ao mesmo tempo em que promove sustentabilidade e justiça social.
A série faz parte da campanha de sensibilização ‘Por um Brasil Cooperativo e Solidário: desenvolvimento e sustentabilidade’, promovido pelo projeto ‘Fortalecimento da Rede Unicopas’, co-financiado pela União Europeia.