Catadora de material reciclável há 37 anos, Claudete Costa assume a presidência da Unicopas (União das Organizações do Cooperativismo Solidário) representando a União Nacional dos Catadores e Catadoras de material reciclável (UniCatadores).
Mulher, negra, moradora de comunidade no Rio de Janeiro, Claudete passou a infância em situação de rua com a mãe e mais dois irmãos. Aos 10 anos de idade, começou a catar material reciclável durante a noite e de dia vendia doces para contribuir com a renda da mãe, que tinha um camelô no centro da cidade.
Sobrevivente da chacina da Candelária, Claudete Costa, é evangélica e enfatiza que sua vida é sinônimo de “superação”. O trabalho na catação garantiu o sustento da família e o pão de cada dia na criação dos três filhos. A participação no Movimento Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (MNCR) abriu caminhos e oportunidades na vida de Claudete, quando iniciou a militância representando catadores em situação de rua do Rio de Janeiro e fez parte do I Encontro de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis, em Brasília.
Com mais convicção e experiência, Claudete conta que aos 22 anos participou do Encontro Latino Americano de Catadores, onde percebeu o potencial do Movimento e desde então, foi aprimorando seus conhecimentos para representar, lutar e construir uma sociedade mais justa a partir da participação em organizações da cadeia de reciclagem.
“Mais um desafio chega à minha vida e com muito orgulho assumo a presidência da Unicopas, organização que vi crescer e ganhar espaços no cooperativismo solidário”, enfatiza Claudete Costa ao tomar posse como presidenta da organização na gestão 2023-2026.
1 – Estamos em um novo cenário na política brasileira. Como você enxerga esse momento para o cooperativismo solidário?
Para nós, catadores e catadoras que trabalhamos com o cooperativismo solidário, acho que estamos em um momento de reconstrução e resgate ao que perdemos nos últimos quatro anos. Precisamos fortalecer os movimentos sociais e as organizações dos trabalhadores porque é necessário dar oportunidades, principalmente aos mais vulneráveis, para que tenhamos mudanças efetivas na sociedade em busca da cooperação e da solidariedade.
2 – Ao assumir a presidência da Unicopas, quais princípios você pretende fortalecer na organização?
Quero trabalhar com a integração e troca de conhecimentos e experiências. Pretendo fortalecer o trabalho em equipe de fortalecimento da nossa instituição e executar um plano de trabalho consistente para que nossas ações tenham mais visibilidade e força.
3 – Com o novo cenário político, como a nova direção da Unicopas pretende promover maior intercooperação e avançar na organização dos trabalhadores? Quais estratégias devem ser mantidas e inovadas no setor?
Acho que estamos em um momento único! Vou assumir um espaço em que pretendo dialogar com todos e todas do campo político para que tenhamos mais força e possam somar durante a minha gestão. Vou trabalhar com alianças para potencializar nossa execução não só no campo do cooperativismo solidário, mas também com as três esferas do Poder Executivo (municipal, estadual e federal) para que possamos fazer um bom trabalho e uma boa gestão nas bases e no meio político. Também estamos abertos ao diálogo com o setor privado para fortalecer nossa atuação e atividades em demais campos.
4- A Unicopas tem agora uma mulher, negra, e representante das catadoras e catadores de materiais recicláveis. O que isso representa para o setor e para organizações da economia solidária?
Ser uma mulher negra, representante de uma classe de trabalhadores, muitas vezes menosprezada pela sociedade e ocupar a presidência da Unicopas na atual conjuntura política é uma grande responsabilidade. Sei que não será fácil, mas não impossível! É uma honra fazer parte e estar à frente de uma instituição que vi ser constituída. Costumamos dizer que a Unicatadores é a caçula da Unicopas por ser a última instituição a compor as três centrais da nossa organização. Fazer parte dessa construção é gratificante e de extrema importância para a área da reciclagem.
5- Qual legado você pretende deixar durante sua gestão?
Vou trabalhar para fortalecer ainda mais a Unicopas! Pretendo mostrar a importância do cooperativismo solidário a partir da integração, troca de conhecimento e experiências exitosas no campo e na cidade das bases de cada central da Unicopas – Unicafes Nacional, Unisol Brasil, Concrab e Unicatadores.