Com uma diretoria formada cem por cento por mulheres, cooperativa de assentamentos da Reforma Agrária em Alagoas mostra potencial da cooperação e da solidariedade na vida das mulheres.
“Você, sozinha, não dá conta. O cooperativismo solidário, além de garantir a autonomia econômica, humaniza o processo. Permite que nós, mulheres, avancemos mais”. É o afirma Débora Nunes, assentada da Reforma Agrária que, atualmente, está como presidenta da CooperCanudos (Cooperativa de Produção Agropecuária da Reforma Agrária da Regional Canudos), em Alagoas.
Fundada em 2013, hoje, a cooperativa conta com 110 cooperadas e cooperados, sendo que 60% são mulheres. Um destaque é para a composição da diretoria: cem por cento feita de mulheres. Uma conquista que só foi possível a partir da compreensão do que, de fato, é o cooperativismo solidário.
“Sem o processo cooperativo, dificilmente a gente consegue avançar. Ele possibilita que nós, mulheres, efetivamente estejamos nestes espaços de condução. Isso porque o cooperativismo solidário contribui para que a gente consiga conduzir outras dimensões da vida, além das atividades produtivas”, disse Débora, ao mencionar estratégias que foram adotadas ao longo dos anos para que a participação das mulheres em espaços de decisão fosse potencializada.
Uma dessas estratégias foi a criação de Cirandas, uma metodologia desenvolvida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que garante um espaço lúdico de formação e diversão para as filhas e filhos das mães trabalhadoras. “Depois de 20 anos contribuindo nos processos produtivos dos assentamentos, vi que é possível avançar na autonomia econômica das mulheres, mas isso, desde que a gente coopere junto a outras companheiras e companheiros, isso porque não se dissocia a vida profissional da vida privada”.
Para Débora, o cooperativismo solidário, além de potencializar a vida das mulheres por meio de processos de formação, é uma alternativa para enfrentar a brutalidade do mercado. “Nós podemos ser grandes também, mas só conseguimos isso se juntarmos vários pequenos”.
E é exatamente isso que cooperativismo solidário proporciona. Além de garantir coletivamente maior produção e competitividade com o mercado tradicional, ele possibilita maior qualidade. Na CooperCanudos, por exemplo, o beneficiamento da produção da macaxeira – mandioca ou aipim para alguns – dá maior rentabilidade para as assentadas da Reforma Agrária.
“Antes da pandemia, que estávamos realizando nossas feiras e participando de circuitos, algumas mulheres conseguiam fazer cerca de dez mil reais vendendo tapioca. Com a macaxeira in natura isso nunca seria possível”, relatou Débora, que dá como exemplo o apoio recebido da Unicopas (União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias) em parceria com a União Europeia, que garantiu a aquisição de equipamentos que ajudam no beneficiamento da produção da cooperativa. “Nenhuma de nós teria a possibilidade de acessar os equipamentos sozinha, não fosse a força do cooperativismo solidário”.
A CooperCanudos faz parte da Concrab (Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil), central afiliada à Unicopas.
Por um Brasil Cooperativo e Solidário: ações que transformam
Foi para destacar experiências do cooperativismo solidário que contribuem para o desenvolvimento local sustentável, em especial, àquelas que contribuem para a transformação na vida das mulheres, que a Unicopas lançou a campanha de sensibilização ‘Por um Brasil Cooperativo e Solidário: ações que transformam’.
As ações destacadas mostram de forma concreta como o cooperativismo solidário é capaz de contribuir para que o Brasil cumpra com as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Agenda 2030 das Nações Unidas.
As cooperativas e associações retratadas na campanha fazem parte da Rede Unicopas e foram contempladas pelo edital de subvenção lançado em 2020 em parceria com a União Europeia.
Fotos: Arquivo MST