Conheça a história de famílias que encontraram no cooperativismo e na economia solidária alternativas para melhorar a produção e a renda com o trabalho no campo
A agroindústria da família Hagemann nasceu na varanda de casa. As primeiras fornadas de pão, cuca e bolacha saíram com apoio de toda família. A produção ficava por conta de Rosane e das filhas Adrieli e Paula. Na época, só havia um cilindro manual e o forno do fogão. O marido Paulo fazia as entregas nas escolas de motocicleta. Após algum tempo, a família encontrou na Cooperativa os primeiros incentivos para expandir a produção. “Na época a gente precisava de uma renda extra e a Coopafi (Cooperativa Central da Agricultura Familiar Integrada), afiliada à Unicafes Nacional, estava crescendo. Eu e o meu marido conversamos e vimos que tínhamos possibilidade de financiar para comprar os maquinários que precisávamos”, relembra Rosane.
A participação da Cooperativa também contribuiu para que a família pudesse organizar seu processo produtivo. Tudo que é produzido na agroindústria tem comércio certo. Isto porque a Coopafi possui um roteiro estratégico eficaz para aquisição dos produtos dos agricultores. Desta forma, o produtor só se preocupa com a quantidade e qualidade da sua produção.
Para Paulo, isso é um dos grandes benefícios do cooperativismo. O agricultor tem mais tranquilidade. “Hoje não preciso bater de porta em porta para oferecer o produto. Ter que deixar os produtos no ponto de ônibus para os professores entregar. Hoje a Coopafi faz isso por você. Pega a quantia certa para comercializar e faz todo processo de entrega. A nossa situação mudou da água para o vinho”, comemora Paulo. Cerca de 50% dos produtos que são gerados na propriedade, como o leite, a nata e o melado, que são aproveitados na industrialização dos panificados, agregando valor ao produto.
Sueli Ziarski, agricultora na comunidade de Salto Grande, também viu a realidade da família mudar com a chegada do Mercado do Produtor na cidade. “Quantas vezes a gente tinha as árvores cheias de frutas e não tinha para quem vender”, comenta Sueli Ziarsk.
Mas hoje a realidade é diferente! Sueli mostra com alegria as laranjas que serão entregues no Mercado do Produtor do município de Itapejara d’Oeste.
O estabelecimento também surgiu com apoio da Coopafi e foi se tornando o reflexo da diversidade produtiva do campo. Atualmente, 35 famílias que abastecem o mercado com produtos fresquinhos toda semana. Há variedade de grãos, carnes, panificados, massas, doces, hortifrúti, derivados do leite, entre outros. As pessoas da comunidade que buscam por produtos coloniais sabem que encontram no Mercado do Produtor.
Para conhecer mais histórias como estas, clique aqui para baixar e ler a Revista Coopafi: potenciais da agricultura familiar
O Sistema Coopafi, que fica em Francisco Beltrão, Paraná, já atua há 12 anos no ramo do cooperativismo de produção. Abrangendo nove municípios da região sudoeste do estado, atualmente, reúne 5 mil associados a associadas. José Carlos Farias, presidente do Sistema Coopafi, lembra que “o alimento mais seguro é aquele que está mais perto de você”. Para ele, um dos desafios para a agricultura familiar é pensar novas atividades econômicas que incluam, de fato, as pequenas famílias agricultoras. Ele destaca que, atualmente, a central de cooperativas vem apostando na produção de ovos coloniais. “A agricultura familiar necessita identificar novas oportunidade de produção que consideram alguns aspectos importantes como geração de renda, agregação de valores, a utilização de espaço físico para geração de renda e a capacidade de mão de obra familiar disponível”.
O Projeto de Implantação da Avicultura Colonial prevê que um grupo de Agricultores Familiares consiga produzir alimento com qualidade e com necessidade de baixo investimento para estruturação dos meios de produção, porém atendendo padrões de mercado.
Assista aqui uma reportagem sobre o projeto de Avicultura Colonial
Estes são apenas alguns dos exemplos de como o cooperativismo com viés econômico solidário pode transformar a realidade de muitas famílias Brasil a fora. A agricultura familiar encontrou no cooperativismo uma forma concreta de expansão e sustentabilidade das famílias produtoras, conforme explica o presidente da Unicafes Nacional, Vanderley Ziger. “Muitas famílias que produziam sozinhas, isoladas e tinham dificuldades principalmente na comercialização dos seus produtos, encontraram no cooperativismo solidário uma forma de produzir mais, com mais qualidade e, consequentemente, com melhores mercados para a venda”.
Entenda o cooperativismo solidário
No Brasil, segundo dados do Censo Agropecuário 2017, 77% dos estabelecimentos agropecuários – 3,9 milhões – são classificados como agricultora familiar. Mais que isso, 67% de todo pessoal ocupado em agropecuária no país – 10,1 milhões de pessoas – estão na agricultura familiar. Além disso, somente no ramo agropecuário, quase 580 mil estabelecimentos estão associados a cooperativas (11,4%).
Na produção de alimentos, segundo dados da Secretaria da Agricultura Familiar e Cooperativismo, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o setor é responsável pela produção da maioria dos alimentos que chegam até a mesa dos brasileiros e brasileiras. Ela produz 70% do feijão nacional, 34% do arroz, 87% da mandioca, 46% do milho, 38% do café e 21% do trigo. Além disso, o setor também é responsável por 60% da produção de leite, por 59% do rebanho suíno, 50% das aves e 30% dos bovinos.
Com o faturamento anual de US$ 55,2 bilhões, a agricultura familiar do Brasil é a 8ª maior produtora de alimentos do mundo. Falando em mundo, segundo a FAO, a agricultura familiar produz mais de 80% da comida mundial e, ao mesmo tempo, aumenta a sustentabilidade ambiental da agricultura, preserva e restaura a biodiversidade e os ecossistemas. Isso porque a agricultura familiar é capaz de produzir mais ocupando menos terra, com mais diversidade e com manejos mais sustentáveis.
Agricultura Familiar: Setor é estratégico para desenvolvimento sustentável
“Este cenário nos comprova que o setor da agricultura familiar organizada em cooperativas com viés econômico solidário se mostra com grande potencial para a geração de trabalho e renda, principalmente para as famílias que vivem no e do campo no Brasil”, destaca Ziger. Mas, para isso, segundo ele, é preciso que haja o incentivo e o fortalecimento de políticas públicas que fomentem a atividade rural no Brasil, em especial às famílias de pequenos produtores que são, “de fato, quem alimenta o povo brasileiro”.
Por um Brasil Cooperativo e Solidário: mais trabalho e renda
Foi para fomentar o debate em torno do cooperativismo e da economia solidária enquanto instrumentos para a geração de trabalho e renda, em especial, em tempos de crise, como a que vivemos com a pandemia do novo coronavírus, que a Unicopas lançou uma campanha digital de sensibilização para mostrar o potencial do cooperativismo solidário.
O objetivo é contar histórias das suas centrais afiliadas que retratam o potencial do cooperativismo e da economia solidária enquanto geradores de oportunidades de trabalho e renda, principalmente às populações mais vulneráveis.
A campanha ‘Por um Brasil Cooperativo e Solidário: mais trabalho e renda’ faz parte das atividades realizados pelo projeto “Fortalecimento da Rede Unicopas”, co-financiado pela União Europeia.
Esta reportagem foi produzida com o apoio do Sistema Coopafi. Os depoimentos foram retirados da Revista Coopafi: potenciais da agricultura familiar. Depoimentos e fotos foram produzidos pela jornalista Indianara Paes.