Frente ao agravamento das crises políticas e econômicas causadas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), Unicopas chama a atenção para o cooperativismo e a economia solidária enquanto estratégias para a retomada do crescimento do Brasil a partir da geração de trabalho e renda, principalmente às populações mais vulneráveis
O desemprego e o trabalho informal – aquele sem carteira assinada – são realidades que, se somadas, atingem mais da metade da população brasileira. De acordo com dados do IBGE referentes ao trimestre encerrado em maio deste ano, 12,7 milhões de pessoas estão desempregadas no Brasil (12,9%). Em três meses o país perdeu 7,8 milhões de postos de trabalho e desses postos a menos, 5,8 milhões eram informais. A informalidade é opção para 36,8 milhões de brasileiros, ou seja, 39,9% dos trabalhadores e trabalhadoras.
“A gente já vinha com uma taxa de desemprego em crescimento, mas, hoje, os números são bastante controversos, uma vez que a pandemia tirou um grupo bastante grande e importante de trabalhadores do mercado”, destacou Fausto Augusto Junior, diretor-técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), durante o debate virtual promovido pela Unicopas na tarde dessa quarta-feira (05).
De acordo com ele, atualmente, a taxa de desemprego chega na casa dos 13 milhões, contudo, ele alerta que o conceito de desemprego no Brasil está relacionado à pessoa que não está trabalhando, mas que está em busca ativa por um posto de trabalho. “Mas o que acontece é que com a pandemia um número grande de pessoas tem deixado de fazer essa busca ativa, ou seja, elas têm saído da força de trabalho”. Segundo ele, existem cerca de sete milhões de pessoas no país que deixaram de fazer essa busca ativa por emprego. Além disso, conforme Fausto, entre 500 e 600 mil empresas já fecharam as portas no país por conta da pandemia.
“Neste contexto, muito provavelmente, existem cerca de 20 milhões de pessoas no Brasil que estariam sem emprego e renda. Talvez, este seja o momento mais grave do nosso país em relação a geração de trabalho e renda”, observou o diretor-técnico do Dieese.
Francisco Dal Chiavon, mais conhecido como Chicão, presidente da Unicopas, lembrou que as cooperativas com viés econômico solidário não se organizam da mesma forma que uma empresa do capital. As cooperativas e associações solidárias estão pautadas em atividades estruturadas em um único tripé: econômico, social e político.
“Nós entendemos que quem está em uma cooperativa não visa apenas o econômico, mas trabalha também para o crescimento das pessoas que fazem parte dela. Todo esse processo vai criando uma forma de se relacionar com o mundo do capital, que não é o único modelo que existe na sociedade brasileira. Nós precisamos cuidar das pessoas. O cooperativismo e a economia solidária não são uma atividade unicamente financeira, mas são um ato de solidariedade entre as pessoas”, exemplificou Chicão.
Claudete Costa, vice-presidenta da Unicopas, destacou que, por meio da Unicopas, que congrega as principais centrais do cooperativismo e da economia solidária do Brasil – Unicafes Nacional, Unisol Brasil, Concrab e Unicatadores – foi possível, mesmo neste momento de crise profunda, manter o trabalho, o fortalecimento e a inclusão de trabalhadores e trabalhadoras no setor cooperativista.
“Esse cooperativismo que gera trabalho e renda, trazendo oportunidades e crescimento profissional tem sido fundamental para todos nós. Neste momento tão difícil estamos conseguindo mostrar a força e o potencial que nós temos por meio do cooperativismo e da economia solidária”, salientou a vice-presidenta da Unicopas, Claudete Costa.
Uma forma possível de organizar a produção e o consumo, mesmo estando em contraponto com o sistema capitalista, conforme lembrou Fausto Augusto, diretor-técnico do Dieese. “A possibilidade de a gente construir o novo, de construir uma economia baseada na visão coletiva e na troca solidária surge a partir das contradições do próprio sistema capitalista. A economia solidária e o cooperativismo fazem parte de um movimento que sempre existiu se contraponto à lógica de produção capitalista. Nós estamos gerando renda, construindo valores e uma outra forma de compreender a lógica de produção. Estamos em disputa. Vamos coexistir sim com o sistema capitalista e vamos disputar com ele a sua hegemonia”.
Saiba como o cooperativismo e a economia solidária podem transformar a realidade do Brasil
O debate virtual promovido pela Unicopas fez parte da campanha ‘Por um Brasil Cooperativo e Solidário: mais trabalho e renda’, promovida pela Unicopas e realizada como parte das atividades do projeto ‘Fortalecimento da Rede Unicopas’, co-financiado pela União Europeia.