Os caminhos para a construção de um país cooperativo e solidário foram apresentados em encontro com Lula
É possível retomar o crescimento econômico e social por meio de cooperativas solidárias? Para Francisco Dal Chiavon, presidente da União Nacional de Organizações Cooperativistas Solidárias (Unicopas), os empreendimentos de economia solidária são instrumentos de organização, transformação e possibilidade de um país mais justo e fraterno, principalmente, para a população mais vulnerável pelo atual governo.
Os caminhos para a construção de um novo Brasil foram apresentados durante o encontro “Cooperativismo e Economia Solidária com Lula” na última quarta-feira (14) em São Paulo, onde reuniu mais de 1.500 pessoas organizadas em associações, empreendimentos e cooperativas solidárias de todo o país.
Na ocasião, a Unicopas entregou ao candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, a Plataforma de Ações Estratégicas do Cooperativismo Solidário, documento elaborado como alternativa para superação da fome, retomada do emprego e renda e incentivo à sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. Também estiveram presentes no evento representantes do Fórum Brasileiro de Economia Solidária.
A Plataforma de Ações da Unicopas apresenta propostas que fortalecem a integração entre o meio rural e as cidades. Dessa forma, Chicão, como é conhecido o presidente da organização, defendeu em seu discurso a produção de alimentos de qualidade por meio da disponibilidade de terras degradadas pelo latifúndio e a implantação de agroflorestas como sistema produtivo de agroecologia “para gerar milhões de postos de trabalho na agricultura e no meio urbano”.
No combate à fome e fomento à agricultura familiar, Chicão realçou que a população precisa da “Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] reestruturada, a serviço de ser a mediadora entre as cidades e o campo para que possamos recuperar as políticas públicas, principalmente, o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos] e o PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar]”.
Cooperativas solidárias para o desenvolvimento
Apesar do número significativo no Brasil de mais de 2.500 empreendimentos de economia solidária e mais de 800 mil associados, outros países apresentam uma realidade bem maior. De acordo com o presidente da Unicopas, na Itália 25% da população está organizada em cooperativas; na Argentina, são 37%; enquanto no Uruguai, 47% da população está organizada nesse tipo de empreendimento.
Durante discurso para a multidão, Lula ressaltou que “o Estado precisa fazer com que as pessoas tenham possibilidade e oportunidade de criar as formas de se organizar, de fazer sua própria economia”, e continuou destacando a atuação e as necessidades das cooperativas solidárias: “o papel do Estado é de no início alavancar com recurso financeiro o primeiro dia a dia dessa gente para que eles comecem a produzir de verdade, comecem a vender e comecem a fazer a economia de uma cooperativa crescer”.
A Unicopas defende a organização dos indivíduos e propõe que o Estado dê condições financeiras e o apoio necessário para ampliação do número de cooperativas solidárias para que seus cooperados possam garantir a renda e a autonomia de seus empreendimentos.
Trabalho e renda
Sobre o encontro com Lula, Leonardo Pinho, dirigente da Unicopas e presidente da Unisol Brasil, diz que “o cooperativismo solidário apresentou sua plataforma com propostas para a retomada do desenvolvimento nacional”.
Pinho também destacou que “um dos desafios que temos hoje no Brasil é enfrentar a ‘uberização’ do trabalho, com cada vez mais trabalhadores sem direitos nenhum”. Com relação à precarização das relações de trabalho, Lula lembrou aos participantes que a relação de trabalho e produção não é mais como antigamente nas fábricas. “O mundo tem um grande número de pessoas desempregadas, e as poucas pessoas que estão trabalhando, trabalham de forma informal”, e lamentou: “são pessoas que não são tratadas como cidadãos, sem registro, sem carteira, sem décimo terceiro, férias, descanso remunerado e seguridade social. Se acontece um acidente, a pessoa fica sozinha no mundo”.
Sustentabilidade
Um importante exemplo de cooperativas solidárias nas cidades que trazem benefícios ao meio ambiente são aquelas formadas por catadores de materiais recicláveis. Chicão classificou esses trabalhadores como “guardiões do clima, guardiões da natureza e guardiões das cidades limpas”, disse ainda que é preciso “transformar as cooperativas de materiais recicláveis em grandes indústrias de transformação e inclusão direta das cooperativas e seus cooperados”.
Em seu discurso, Lula também comentou sobre o meio ambiente e disse que a “questão climática ganhará peso em seu governo”. Gerar sustentabilidade, preservar o meio ambiente e realizar a gestão correta dos resíduos sólidos também faz parte do conjunto de propostas da Plataforma de Ações entregue ao candidato à presidência.
Claudete Costa, vice-presidenta da Unicopas e presidenta da União Nacional de Catadores e Catadoras de Material Recicláveis (UniCatadores), disse que fortalecer e valorizar o trabalho dos catadores e catadoras que atuam diretamente na separação e destinação correta dos resíduos significa gerar renda e dar dignidade à milhares de homens e mulheres que atuam no setor.
“Esse encontro com o Lula foi uma oportunidade para mostrar que precisamos de um Estado que valorize e reconheça esse trabalho dentro do cooperativismo solidário. Um setor que precisa movimentar o mercado, a cadeia produtiva, a economia do nosso país e, ao mesmo tempo, tendo como princípio o caminho da solidariedade”, destacou Claudete Costa.
A representante dos catadores finalizou dizendo que a “Unicopas cuida, trabalha e vive do cooperativismo solidário, trazendo respaldo para a ponta dos trabalhadores e trabalhadoras que atuam na base”.