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Que Brasília ficou florida na manhã do dia 14 de agosto todo mundo já sabe. Cerca de 100 mil mulheres do campo, das florestas, das águas e da cidade marcharam pelas ruas da capital federal em busca da garantia de direitos, por políticas públicas e democracia. Em meio a centenas de milhares de bandeiras que se misturavam com flores, chapéus e cânticos, a autonomia, principalmente a econômica, também foi palavra de ordem durante a 6ª Marcha das Margaridas.
Isso porque a autonomia econômica é essencial para que as mulheres possam prover seu próprio sustento e decidir sobre suas próprias vidas. Talvez este seja o principal instrumento para elas conquistarem as rédeas de suas vidas e histórias, como mostra o exemplo de um grupo de mulheres do Quilombo Feijão, localizado no município de Mirandiba (PE).
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Tatiane Gomes, 28 anos, quilombola, chegou de Pernambuco para participar da sua primeira Marcha das Margaridas. Foram quase três dias de viagem que, segundo ela, valeram à pena. Seguindo os passos da mãe Luzinete, que pela primeira vez não pode marchar por motivos de saúde, Tatiane é um dos muitos exemplos de mulheres que somaram forças e esforços e, hoje, organizadas em um grupo de produção coletiva garantem trabalho, renda e autonomia para mais de 20 mulheres. A produção é de doces e vem a partir do reaproveitamento de frutos dos quintais produtivos da comunidade.
Quem chamou as outras mulheres para começar a produção foi a dona Luzinete. Tatiane, ainda pequena, lembra da mãe falando: “nós temos a goiaba, o leite, o umbu, os frutos dos nossos quintais e vamos produzir doce. Nós não vamos perder esse excesso”. Foi assim que um grupo de 11 mulheres, a partir da doação de R$ 10 de cada integrante, começou a produzir coletivamente. Hoje, a inciativa de dona Luzinete já beneficia 24 mulheres. “Deu super certo. As jovens também começaram a vir para o nosso grupo e lá nós trabalhamos a agroecologia e questões relacionadas às drogas, violência, prostituição. Tudo para formar e conscientizar também as nossas jovens”, contou.
Com o passar do tempo, por meio do trabalho realizado pelo grupo, Tatiane observou grandes transformações na vida das mulheres e das jovens.
“Você acredita que as mulheres achavam que não trabalhavam? Que eram apenas ajudantes dos seus maridos? Mas quando a gente vai ver, nós, mulheres, trabalhamos muito mais e são eles quem nos ajudam, não é mesmo?! Muitas mulheres se libertaram de situações de violência dentro de casa, conquistaram autonomia e hoje saem para reuniões, para participar de palestras. Mudou totalmente! Não existe mais aquela coisa de sair só quando o marido dá o dinheiro porque agora elas têm o próprio dinheiro. Não é só a questão econômica, mas é de empoderamento”.
É por isso que o papel do cooperativismo e da economia solidária se torna essencial na vida de diversas mulheres. Essa forma de trabalhar promove não só o sustento econômico, mas a emancipação e a dignidade, com práticas baseadas na autogestão, na democracia e na cooperação.
“Eu não poderia deixar de estar neste espaço (Marcha das Margaridas) para lutar pelos nossos direitos. Estou muito feliz e na próxima estarei aqui novamente porque eu trouxe a bandeira e a missão de todas as mulheres da minha comunidade que não puderam estar aqui”, comemorou Tatiane.
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Unicopas e União Europeia na promoção do protagonismo feminino
Por isso, uma parceria firmada entre a Unicopas (União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias) e a União Europeia, por meio do projeto “Fortalecendo a Rede Unicopas”, tem por objetivo aumentar a participação das mulheres e das juventudes nas instâncias de governança da organização, nos espaços de incidência política e de controle social das políticas públicas. Para isso, diversas ações, como formação e capacitação de lideranças, serão desenvolvidas ao longo dos três anos de execução do projeto.
Além de promover o protagonismo feminino, a Unicopas acredita que a economia e o cooperativismo solidário podem contribuir efetivamente para que o Brasil alcance os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), neste caso, em especial, o ODS 5: Igualdade de Gênero. Isso porque muitos empreendimentos são formados por mulheres e promovem diretamente a autonomia econômica das mulheres, sua participação no empreendimento e o fomento ao empoderamento feminino.
Os ODS foram estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, quando líderes mundiais definiram um plano de ação para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade. São 17 objetivos que congregam mais de 200 metas, uma ambiciosa lista de tarefas para todas as pessoas, em todas as partes, a serem cumpridas até 2030. Esta é a base da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.