Você já ouviu falar em Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os chamados ODS? Esses objetivos foram estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, quando líderes mundiais definiram um plano de ação para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade.
São 17 objetivos que congregam mais de 200 metas, uma ambiciosa lista de tarefas para todas as pessoas, em todas as partes, a serem cumpridas até 2030. Esta é a base da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Se cumprirmos suas metas, seremos a primeira geração a erradicar a pobreza extrema e iremos poupar as gerações futuras dos piores efeitos adversos da mudança do clima. Mas, com certeza, isso não será uma tarefa fácil.
Foi com o objetivo de debater estratégias do cooperativismo e da economia solidária enquanto atores importantes no alcance dos ODS que o presidente da Unicopas (União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias), Arildo Lopes, o presidente da ACI (Aliança Cooperativa Internacional), Ariel Guarco, o presidente da Unicafes (União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária), Vanderley Ziger, e o vice-presidente da Cresol (Sistema das Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária), Luiz Tomacheski, afiliadas à Unicopas, estiveram reunidos em Buenos Aires, capital da Argentina, em junho deste ano.
De acordo com o Arildo Lopes, o cooperativismo com viés econômico solidário é uma estratégia de desenvolvimento fundamental para o alcance dos ODS, em especial, no combate à pobreza e à fome e na promoção de uma agricultura sustentável com cuidado ao meio ambiente.
“Isso porque o cooperativismo e a economia solidária surgem como alternativas ao desemprego e geração de renda, em especial, às populações mais empobrecidas. Atua diretamente na promoção do acesso aos direitos iguais aos recursos econômicos e na criação de marcos políticos sólidos, com base em estratégias de desenvolvimento para as populações mais vulneráveis economicamente”, destacou Lopes.
Mundialmente, três milhões de cooperativas contribuem significamente com o crescimento econômico, com geração de empregos estáveis e de qualidade, de acordo com a ACI. São mais de 280 milhões de pessoas em todo o mundo trabalhando em cooperativas, o que representa 10% da população empregada. Além disso, as 300 maiores cooperativas do mundo geram US$ 2,1 bilhões de dólares ao mesmo tempo em que proporcionam os serviços e a infraestrutura que a sociedade necessita para prosperar. No Brasil, há mais de 6,8 mil cooperativas distribuídas em 13 ramos de atividades, ultrapassando 14,2 milhões de associados e gerando 398 mil empregos formais, segundo dados da Agenda Institucional do Cooperativismo 2019.
Mas esses números podem ser ainda maiores, conforme Lopes. Isso porque o cooperativismo é uma das formas associativas de organização do trabalho, que também podem ser encontradas em associações produtivas e empresas de autogestão. Por isso, outro tema destacado durante o encontro com a ACI foi a inserção de todo esse universo cooperativista no debate sobre o futuro do trabalho. “Nosso companheiro Ariel Guarco, presidente da ACI, assumiu o compromisso de estar mais próximo das bases ouvindo e encaminhando as demandas do continente de acordo com pautas legítimas”, acrescentou o presidente da Unicopas.
Na superação da pobreza – relacionado ao ODS 1 -, da fome (ODS 2), com geração de renda e postos de trabalhos decentes (ODS 8 e 10). Tudo isso agregando cuidado com o meio ambiente (ODS 13 e 15) e promovendo um modelo de desenvolvimento mais sustentável (ODS 11). Em todos os pontos o cooperativismo solidário se faz presente.
Para além desses, não menos importante, está o ODS 5, Igualdade de Gênero. Por meio do cooperativismo solidário, não só as mulheres, mas também as juventudes, tem a oportunidade de conquistar autonomia, inclusive a econômica. Falar em autonomia não engloba somente a questão da independência financeira e geração de renda, mas diz respeito sobre a liberdade para fazer escolhas. É por este caminho que muitas mulheres, por exemplo, conseguem se livrar de uma situação de violência. “Neste sentido, o papel do cooperativismo e da economia solidária se torna essencial na vida de diversas mulheres e jovens. Essa forma de trabalhar promove não só o sustento econômico, mas a emancipação e a dignidade, com práticas baseadas na autogestão, na democracia e na cooperação”, ressaltou Arildo Lopes.
Década da Agricultura Familiar
Para fomentar e colocar em prática um plano de ação global contra a fome e a pobreza, a ONU lançou oficialmente em junho de 2019 a Década da Agricultura Familiar (2019-2028). O tema também foi pauta da reunião entre as lideranças na Argentina. Vanderley Ziger sublinhou que a Década da Agricultura Familiar é uma oportunidade de, nos próximos dez anos, debater e construir uma estratégia integrada de desenvolvimento das organizações que trabalham com a agricultura familiar. “Além de discutir com a sociedade o papel desses agricultores na produção de alimentos e na preservação do meio ambiente, vamos, ao mesmo tempo, debater o papel da agricultura familiar na valorização dos pequenos municípios, porque são eles os responsáveis pelo desenvolvimento dessas regiões”.