Incidência e Economia Solidária: capacitações aprofundam estratégias de advocacy e desenvolvimento sustentável

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Com o apoio da União Europeia, cursos on-line da Unicopas capacitam lideranças do cooperativismo solidário em todo Brasil. 

Uma manhã de sábado recheada de conhecimento. De um lado, estudantes do curso ‘Incidência Política, Monitoramento e Políticas Públicas’, do outro, alunas e alunos que querem saber mais sobre ‘Economia Solidária como Estratégia de Desenvolvimento’

Voltadas para a formação de lideranças da Unicopas (União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias) e de organizações da sociedade civil, as capacitações têm por objetivo comum promover práticas de cooperação e solidariedade, além de fortalecer o cooperativismo solidário no Brasil. Os dois cursos contam com o apoio da União Europeia por meio do projeto ‘Fortalecimento da Rede Unicopas’. 

Leonardo Pinho, dirigente da Unicopas e presidente da Unisol Brasil, foi quem ministrou a aula do curso de incidência, que abordou temas e estratégias relacionadas à advocacy social alinhado aos objetivos do cooperativismo solidário. “Isso significa atuar em rede incidindo nos debates sobre estratégias de desenvolvimento, meio ambiente, economia solidária, direitos humanos e cooperativismo”, destacou.

Pinho ainda ressaltou que a proposta de formar lideranças cooperativistas locais é importante para que pautas nacionais também possam reverberar nas regiões e cidades e vice-versa. “Precisamos sim defender as nossas pautas locais, mas também é importante fazermos as discussões de pautas nacionais em nossas comunidades. Inclusive, uma política pública de âmbito nacional é mais efetiva quando vem a partir de construções coletivas e debates locais”. 

Um ponto reforçado por Karla Oliveira, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A palestrante convidada apontou dois caminhos para a incidência política: aquele construído a partir dos movimentos populares e outro pautado por especialistas. “Há um misto neste processo de construção com foco na formação técnica e educacional do nosso povo para que ele se torne o especialista e não só os especialistas tenham sensibilidade para com as nossas pautas.

Nós que sofremos as necessidades coletivas podemos nos tornar os próprios especialistas e falar pelo nosso povo”. 

Karla ainda explicou a importância da organização das bases porque, segundo ela, é a partir disso que “garantimos força política para ter representatividade nas instituições”. 

Causas sem visibilidade, falta de prioridade na agenda pública e no orçamento e inexistência de soluções para algumas demandas, foram algumas das principais razões elencadas durante a aula para investir em ações advocacy social.

“Buscamos a construção de uma nova economia e um novo modelo de desenvolvimento que seja focado no ser humano e no meio ambiente”, lembrou Leonardo Pinho. 

Um modelo que se contrapõe às práticas e aos princípios do capital, aprofundado no curso ‘Economia Solidária como Estratégia de Desenvolvimento’, que no módulo 1 reflete o tema ‘Agronegócio, desmatamento e caldeirão de futuras pandemias’. 

Guiado por Kelli Mafort, também do MST, os debates giraram em torno das consequências do modelo de desenvolvimento que estamos inseridos. 

De acordo com ela, desde que o capitalismo surgiu, ele libera crises para se reorganizar. Elas são cíclicas e hoje vivemos uma crise estrutural, que teve início ainda na década de 1970 do século passado, que coloca em risco a vida humana, em especial, a vida dos mais empobrecidos. “A pandemia acelerou as contradições do modelo em crise, aumentando as desigualdades sociais e os privilégios da classe dominante”. 

Classe que, em boa parte, é representada pelo agronegócio. Kelli lembrou que esse setor ganha visibilidade pelas supersafras de commodities, mas quem produz o alimento que entra na casa das famílias brasileiras é a agricultura familiar e camponesa. “Mesmo não sendo o produtor de comida, o agronegócio exerce um poder muito grande sobre a forma de produzir e sobre o comércio por meio da especulação. Como vimos a situação do preço do arroz ir para as alturas no ano passado, vamos ver o mesmo acontecer com o feijão a partir de março deste ano justamente por conta da especulação do capital”. 

Parte do agronegócio, para manter seus recordes de produção, avança com desmatamento e pressão a pequenos produtores, Territórios Indígenas e Tradicionais, contribuindo para um crescimento desordenado, inconsciente e insustentável. 

“Se os alimentos são produzidos pelos pequenos, podemos afirmar que o agronegócio está produzindo fome”. 

Os cursos online da Unicopas seguem até abril deste ano.