A reciclagem é essencial no fluxo da logística reversa. Isso porque é a responsável por transformar os resíduos novamente em matéria-prima por meio de um conjunto de técnicas pelas quais os materiais, que seriam descartados, são desviados e processados para serem usados como matéria-prima na manufatura de novos produtos, seja na mesma cadeia produtiva ou em outra. O papel das catadoras e dos catadores de materiais recicláveis para lidar com o desafio dos resíduos sólidos é indispensável.
Garantir um processo de reciclagem eficiente, traz inúmeros efeitos econômicos e sociais. Os principais são:
Minimiza a exploração de recursos naturais: um dos principais efeitos positivos ao meio ambiente da logística reversa e reciclagem é a redução da extração de recursos naturais para a produção de novos produtos, uma vez que o material pós-consumo é reaproveitado ou processado e reintroduzido na cadeia produtiva.
Reduz a poluição do solo, da água e do ar: a logística reversa e a reciclagem reduzem significativamente a poluição do solo, da água e do ar, tanto devido a redução da produção dos materiais quanto à diminuição do descarte inadequado dos resíduos. Além disso, reduz a necessidade de expansão de aterros, e, consequentemente, os gastos públicos relacionados a esse investimento.
Mitiga as emissões de gases de efeito estufa: reduzindo a produção de materiais virgens (plástico, vidro, aço e alumínio), reduz também a emissão desses gases na extração da matéria-prima para produzir os materiais virgens. Também reduz a geração de gases emitidos durante decomposição dos materiais nos locais de descarte dos resíduos sólidos.
Reduz o custo de produção: o uso de material reciclado como matéria-prima pode gerar redução no custo de produção de novos produtos. Segundo relatório “Pesquisa sobre pagamento por serviços ambientais urbanos para gestão de Resíduos Sólidos” 2, elaborado pelo IPEA em 2010, a matéria-prima reciclada apresenta vantagens econômicas consideráveis sobre a matéria-prima virgem no que diz respeito a custos de produção.
Gera renda: além de reduzir o custo de produção de novos produtos, a cadeia de reciclagem gera trabalho e renda para milhares de pessoas, seja pela venda do material reciclado, seja em razão da força de trabalho mobilizada para a coleta, transporte e triagem do material. Por isso, a Unicopas defende e trabalha por um modelo de reciclagem popular e inclusiva.
Investir na reciclagem popular e inclusiva para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Um dos efeitos positivos para o meio ambiente da reciclagem é a mitigação das emissões dos gases do efeito estufa. Estima-se que o volume recuperado pela atividade de cooperativas e associações acompanhadas pela Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT) equivale a um potencial de 36 mil toneladas de CO2 em 2017, e de 29 mil toneladas em 2018. Esse potencial decorre, principalmente, da diminuição da produção de materiais virgens. O material que mais colaborou para essa redução foi o plástico (43%), seguido do metal (39%) e do papel (18%).
Por esta e outras tantas razões, o setor de reciclagem gestado pelo protagonismo de catadoras e catadores é fundamental para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os chamados ODS. Esses objetivos foram estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, quando líderes mundiais definiram um plano de ação para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade.
São 17 objetivos que congregam mais de 200 metas, uma ambiciosa lista de tarefas para todas as pessoas, em todas as partes, a serem cumpridas até 2030. Esta é a base da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Se cumprirmos suas metas, seremos a primeira geração a erradicar a pobreza extrema e iremos poupar as gerações futuras dos piores efeitos adversos da mudança do clima.
O setor de reciclagem, por meio do cooperativismo e da economia solidária, além de contribuir com a redução da pobreza e da fome extremas por meio da geração de trabalho e renda, grandes objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS 1 e 2, respectivamente), ele contribui significamente para a construção de cidades e comunidades mais sustentáveis (ODS 11), além de promover uma ação global contra a mudança global do clima (ODS 13) e proteger a vida terrestre (ODS 15). A igualdade de gênero (ODS 5) também pode ser destacada, uma vez que a maior parte dos postos de trabalho do setor é ocupado por mulheres (72%), que encontraram na reciclagem vida digna e autonomia, principalmente a econômica.
Um bom exemplo é o de Lucia Fernandes do Nascimento. Ela que trabalhou 18 anos no lixão da Estrutural, o maior da América Latina – fechado pelo governo do Distrito Federal em janeiro de 2018, hoje é presidenta da Coorace (Cooperativa de Reciclagem Ambiental da Cidade Estrutural). “Eu entrei no lixão por necessidade. Morávamos de aluguel. Eu já tinha dois filhos pequenos para criar. Precisava trabalhar e lá foi a única oportunidade que encontrei. Tudo o que eu tenho hoje eu consegui trabalhando dentro do lixão. Para uma mulher que não tinha onde morar, hoje, eu não tenho muita coisa, mas tenho uma casinha em Luziânia”, conta com os olhos de alegria.
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Do lixão a presidenta de cooperativa
O Anuário da Reciclagem 2017-2018, que serviu como base para esta reportagem, foi produzido pela ANCAT e Pragma Soluções Sustentáveis, em parceria com a LCA Consultores. A pesquisa reúne dados que traduzem o impacto positivo do trabalho realizado pelos catadores na economia brasileira e no meio ambiente. A ANCAT é associada à Unicatadores, umas das centrais afiliadas à Unicopas.
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