Roberta Coimbra fala sobre o trabalho enquanto cooperativista solidária. Ela que viveu a infância e adolescência na periferia de Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, hoje faz parte da direção executiva do Setor de Produção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado gaúcho, que ajuda a viabilizar a atividade de cooperativas organizadas dentro do movimento. Conheça essa trajetória.
Em busca de uma vida melhor, Roberta, ainda menina, descobriu o curso técnico agrícola em uma cidade próxima, onde iniciava-se uma experiência piloto em que as crianças poderiam cursar o ensino fundamental junto com o curso técnico agropecuário.
“Eu fiz parte de uma das turmas piloto. Junto comigo ingressaram vários filhos de assentados da região. E foi nesta escola o meu primeiro contato com o cooperativismo. Nós tínhamos uma cooperativa de alunos, mas alguns professores também participavam. Depois de formada eu consegui integrar a Cooperativa Colmeia de Porto Alegre. Esta foi a primeira cooperativa a fazer de maneira abrangente o debate sobre a agricultura orgânica. Foi ela quem iniciou o processo de feiras agroecológicas e foi ali que eu tive meu primeiro contato com os assentamentos da reforma agrária”.
E assim ela conheceu o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e se apaixonou. Viu na organização uma possibilidade real de melhorar de vida. De viver melhor do que na periferia de uma grande cidade. “Então, aos 18 anos, eu comecei a contribuir já na organização de uma frente de massa em uma ação de ocupação de uma fazenda que virou o assentamento onde eu vivo há 19 anos”.
Com o ensino médio completo e um curso técnico em agropecuária, Roberta acumulou experiência em agroecologia, tanto na cooperativa quanto no movimento. Além de participar do movimento, hoje, ela toca um lote junto com as duas filhas onde trabalham com a produção de sementes orgânicas, um pouco de fruta e produção de leite, além da própria subsistência.
“Toda a minha vida, desde a adolescência, sempre foi em torno do cooperativismo. É um modelo que eu acredito! Na cooperativa, além do trabalho, você também é dono. Todo mundo precisa ajudar a pensar estratégias. É o modelo coletivo que viabiliza uma cooperativa, que é muito diferente do trabalho formal que você vai lá, cumpre a sua função, o seu horário e no final do mês está garantido o seu salário. Se deu lucro ou prejuízo isso não tem diretamente a ver com o debate do trabalhador, ele não é parte, não é dono. Na cooperativa não! É um grupo que se desafia a tocar um projeto de uma forma coletiva disputando, querendo ou não, esse mercado capitalista que nós vivemos. Só que internamente vivemos um outro conceito de convivência e de trabalho, com dedicação de vida. Eu não consigo me enxergar hoje trabalhando de outra forma”.
O trabalho cooperativo dentro do MST rendeu ao movimento a maior produção de arroz orgânica da América Latina. A produção que ocorre em vários assentamentos da reforma agrária há 20 anos no Rio Grande do Sul é totalmente livre de agrotóxicos. Atualmente há 363 famílias produzindo o arroz orgânico em 15 assentamentos e 13 municípios – Charqueadas, Capela de Santana, Eldorado do Sul, São Jerônimo, Canguçu, Manoel Viana, Tapes, Arambaré, Nova Santa Rita, Viamão, Capivari do Sul, Guaíba e Santa Margarida do Sul. A área plantada na safra de 2018-2019 é de 3.433 hectares, e a estimativa de colheita é de aproximadamente 16 mil toneladas.
por Thays Puzzi / assessoria de Comunicação Unicopas
Foto: Guilherme Santos/Sul21