Ações que transformam
“Muitas mulheres conquistaram autonomia com o trabalho na cooperativa e tiveram suas vidas transformadas”. A fala de Maria Senhora Carvalho da Silva, agricultora familiar e diretora-financeira da Cooaf-Bico (Cooperativa de Produção e Comercialização dos Agricultores Familiares, Agroextrativistas e Pescadores Artesanais de Esperantina), que fica na região do Bico do Papagaio, no Tocantins, reflete a realidade de milhares de mulheres de Norte a Sul do Brasil. Mulheres que, por meio do cooperativismo solidário, encontraram alternativa para a geração de trabalho, renda e vida digna.
Para contar esta e outras histórias, a Unicopas promoveu uma campanha digital nos canais de comunicação institucionais. O objetivo foi mostrar de forma concreta como o cooperativismo solidário contribui para o desenvolvimento local sustentável e gera transformações de vida, em especial, na vida das mulheres.
A campanha ‘Por um Brasil Cooperativo e Solidário: ações que transformam’, fez parte das atividades desenvolvidas pelo projeto ‘Fortalecimento da Rede Unicopas’, cofinanciado pela União Europeia.
Cooperativismo solidário para a transformação social
Claudete Costa*
São mais de 400 mil mortes por Covid-19. São mais de 100 milhões de pessoas que não sabem se vão ou não conseguir fazer a próxima refeição. Em um cenário em que ritmo acelerado de mortes e contaminações pelo novo coronavírus se contrapõe ao compasso lento da vacinação – falta vacina, falta insumo, falta gestão e responsabilidade por parte do governo federal -, o número de brasileiras e brasileiros com fome também segue crescendo. A saltos altos!
Uma pesquisa mostrou que 13,6% da população brasileira com mais de 18 anos passou ao menos um dia sem comer entre os meses de agosto e outubro de 2020. A insegurança alimentar, que atingia 36,7% das famílias em 2018, chegou a 59,4% dos lares. Ao todo, 125 milhões de brasileiras e brasileiros enfrentaram alguma forma de insegurança alimentar. O levantamento foi divulgado pelo Food for justice – Power, Politics and Food Inequality in a Bieconomy, da Universidade Livre de Berlim, que contou com a parceria de pesquisadores das universidades federais de Minas Gerais e Brasília.
Além disso, projeções do último relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional) apontam que o desemprego no Brasil deve subir para 14,5% ainda neste ano, ultrapassando a taxa de países como a Colômbia e o Peru. No trimestre encerrado em janeiro, segundo o IBGE, o número de pessoas desempregadas bateu novo recorde e chegou a atingir 14,3 milhões de brasileiros.
O Brasil tem pressa! E o cooperativismo solidário é uma das estratégias para que o país possa encontrar caminhos reais e possíveis para a transformação social. Nós, da Unicopas (União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias) – que congrega as principais centrais do cooperativismo solidário do país (Unicafes Nacional, Unisol Brasil, Concrab e Unicatadores), acreditamos que a justiça e a transformação social só serão possíveis quando o Brasil investir efetivamente em políticas públicas que promovam o beneficiem o cooperativismo com viés econômico solidário.
A nossa experiência com as populações mais vulneráveis comprova isso. De norte a sul do país, cooperativas e associações transformam vidas de milhares de pessoas todos os dias.
Um exemplo são as mulheres extrativistas da Cooaf-Bico (Cooperativa de Produção e Comercialização dos Agricultores Familiares, Agroextrativistas e Pescadores Artesanais de Esperantina), que fica na região do Bico do Papagaio, no Tocantins. Com 32 cooperados, sendo 20 mulheres, a diversidade de produção da cooperativa garante trabalho e renda para pequenos produtores da região. O mesmo acontece com as mulheres artesãs de Jequitibá, interior de Minas Gerais, que, por meio da AARJE (Associação dos Artesãos de Jequitibá), conseguem organizar e aumentar a produção.
A organização do trabalho tendo como pilares a autogestão, a cooperação e a solidariedade também transformaram a vida de catadoras e catadores de materiais recicláveis de todo o Brasil. O Projeto Reciclar, em 2020, fortaleceu 253 de organizações e beneficiou cerca de quatro mil profissionais, em sua maioria mulheres. A Campanha de Solidariedade, criada com o objetivo de minimizar os impactos da Covid-19, auxiliou na segurança alimentar e nutricional de aproximadamente 14 mil catadores e catadoras.
Também foi no cooperativismo solidário que muitas mulheres conquistaram autonomia e espaços antes dominados majoritariamente por homens. Na CooperCanudos (Cooperativa de Produção Agropecuária da Reforma Agrária da Regional Canudos), em Alagoas, 60% das 110 cooperadas e cooperados são mulheres. Um destaque é para a composição da diretoria desta cooperativa: cem por cento feita de mulheres. Uma conquista que só foi possível a partir da compreensão do que, de fato, é o cooperativismo solidário.
Mesmo neste momento de crise profunda, estamos conseguindo mostrar a força e o potencial que nós temos dentro do cooperativismo solidário. Em parceria com a União Europeia, a Unicopas vem desenvolvendo, desde 2019, uma série de ações, em especial com as juventudes e mulheres, que promovem e fortalecem o cooperativismo com viés econômico solidário no Brasil.
Isso porque acredita que o cooperativismo solidário é estratégico na promoção de um desenvolvimento com sustentabilidade, equidade e justiça social. Além disso, o cooperativismo solidário é uma ferramenta capaz de contribuir para a Agenda 2030, da ONU, e ajudar o Brasil a cumprir as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Acesse unicopas.org.br para saber como o cooperativismo solidário contribui para a retomada do Brasil.
Claudete Costa é catadora de materiais recicláveis, moradora da Cidade de Deus e sobrevivente da chacina da Candelária. Atualmente, é presidenta da Unicatadores e da cooperativa Reciclando para Viver e vice-presidenta da Unicopas (União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias). Claudete também é representante dos catadores e catadoras no estado do Rio de Janeiro pelo Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis.
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