Censo Agropecuário mostra recuo da agricultura familiar no Brasil

homem camponês da agricultura familiar com chapéu de palha cuida de mudas dentro de uma estufa de produção de alimentos
Foto: Joyce Fonseca / MST

Em onze anos, agricultura familiar perdeu 9,5% dos estabelecimentos e 2,2 milhões de postos de trabalho; ainda assim, setor tem participação significativa na produção de alimentos e representa 67% da mão de obra dos estabelecimentos agropecuários

Dados levantando pelo Censo Agropecuário 2017 e divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que houve queda no número de estabelecimentos e nos postos de trabalho na agricultura familiar. Quando comparado com o último Censo, o de 2006, o número de estabelecimentos caiu 9,5%.

Além disso, o setor foi o único a perder mão de obra. Enquanto na agricultura não familiar houve a criação de 702 mil postos de trabalho, a agricultura familiar perdeu um contingente de 2,2 milhões de trabalhadores. Mesmo assim, trabalhavam na agricultura familiar cerca de 10,1 milhões de pessoas, o que representa 67% da mão de obra dos estabelecimentos agropecuários.

Um dos fatores levantados pela pesquisa para o recuo foi o envelhecimento dos chefes das famílias. De acordo com o Censo, 26% dos produtores dos estabelecimentos de agricultura familiar tinham 65 anos ou mais. Na outra ponta, apenas 1,95% tinham menos de 25 anos.

Ainda assim, a agricultura familiar continua representando o maior contingente (77%) dos estabelecimentos agrícolas do país, mas, por serem de pequeno porte, ocupam uma área menor, 80,89 milhões de hectares, o equivalente a 23% da área agrícola total.

Potencial produtivo

Em comparação aos grandes estabelecimentos, responsáveis pela produção de commodities agrícolas de exportação, como soja e milho, a agricultura familiar responde por um valor de produção de apenas 23% do total no país. Mas, o percentual por Estados tem grande variação. A participação da agricultura familiar no valor total da produção chega a 67,35% no Amazonas, por exemplo. No Acre, no Amapá, em Sergipe em Santa Catarina, o mesmo indicador ultrapassa 50%. Já no Tocantins, em São Paulo, no Mato Grosso do Sul, no Mato Grosso, em Goiás e no Distrito Federal, o índice fica abaixo dos 20%.

Produção de alimentos

Quando considerado os alimentos que vão para a mesa dos brasileiros, os estabelecimentos de agricultura familiar têm participação significativa. Nas culturas permanentes, o segmento responde por 48% do valor da produção de café e banana; nas culturas temporárias, são responsáveis por 80% do valor de produção da mandioca, 69% do abacaxi e 42% da produção do feijão.

Cenário preocupa

Vanderley Ziger, presidente da Unicafes Nacional, uma das centrais afiliadas à Unicopas, vê este cenário com preocupação. Para ele, o recuo da agricultura familiar no Brasil é reflexo de políticas que não estimulam o setor em todo seu potencial e isso pode trazer prejuízos econômicos e de desenvolvimento para o país.

“A agricultura familiar do Brasil é a oitava maior produtora de alimentos do mundo e é a grande responsável por colocar comida na mesa das famílias brasileiras. Além disso, ela movimenta a economia de 90% dos municípios com até 20 mil habitantes. Isso sem falar na produção de comida sem veneno. Se não tivermos políticas eficazes que garantam o crescimento da agricultura familiar no Brasil, a médio e longo prazo, o país e a população brasileira podem sofrer consequências graves, como a queda na qualidade da alimentação, ou mesmo tendo de importar alimentos do dia a dia com um custo muito maior do que os produzidos internamente pela agricultura familiar”.

Medidas como facilidade no acesso ao crédito, bem como programas de incentivo para a permanência do jovem no campo, além de melhorias no manejo para aumento na produtividade são algumas das ações que, segundo Ziger, podem promover a agricultura familiar no Brasil.

com informações do IBGE