Agri-Agência como estratégia de fomento ao cooperativismo solidário

Organizações nacionais e internacionais estiveram reunidas em Francisco Beltrão, sudoeste do Paraná, para estruturarem orientações para atuação do Infocos como Agri-Agência e debaterem as oportunidades para o fortalecimento das organizações associativas e cooperativistas da região. Detalhes na reportagem.

“Se nós não acreditássemos naquilo que fazemos. Se não acreditássemos que transformamos a vida das pessoas, não estaríamos aqui. O cooperativismo e o associativismo são instrumentos de transformação. E ninguém transforma vidas sozinho”. A fala foi de Vanderley Ziger, presidente da Unicafes (União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária), uma das centrais afiliadas à Unicopas (União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias), durante o Seminário Sinergia Infocos AA (Agri-Agência), que ocorreu nos dias 16 e 17 de abril, na sede da Cresol Baser, em Francisco Beltrão, no sudoeste do Paraná.

O principal objetivo do evento foi estruturar orientações para atuação do Infocos como Agri-Agência, frente a conjuntura sócio econômica da América Latina, e debater as oportunidades para o fortalecimento das organizações associativas e cooperativistas da região. O seminário também aproximou atores que desenvolvem políticas e ações de apoio à agricultura familiar e ao cooperativismo solidário.

Para isso, participaram do Seminário instituições de seis países – Peru, Equador, Chile, Argentina, Bélgica e Brasil -, além de representantes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), da Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar do Mercosul (REAF), da rede AgriCord, da ONG Trias, da Unicafes e da Unicopas.

Agri-agência é uma estratégia de articulação mundial que tem por objetivo apoiar o desenvolvimento de regiões que enfrentam dificuldades sociais e econômicas. Por meio da captação de recursos e intercâmbio de experiências visam combater a pobreza através de incentivos e fomento a boas práticas.

E por que debater e pensar conjuntamente estratégias de atuação de uma agri-agência na América Latina?

De acordo com Alberto Ramirez, da FAO para a América Latina e o Caribe, na região, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar aumentou nos últimos anos. Em 2017, 42,7 milhões de pessoas sofriam com a fome. “O problema maior é que há comida suficiente para alimentar essas pessoas, mas elas não têm acesso ao alimento”.

Responsável pela produção da maior parte da comida que vai para a mesa das pessoas, para Ramirez, a agricultura familiar não é apenas uma forma de produzir, “é um tipo de produção que tem conexão com espaço físico em que está inserido e possui, também, um contexto sociocultural”. Todavia, é um setor que, segundo ele, sente a necessidade de organização e uma das alternativas, para ele, é o cooperativismo. “Na América Latina e no Caribe, existem 181 mil cooperativas que agrupam 421 milhões de membros. É fundamental que agricultores familiares se organizem para que possam, por um lado, obter preços adequados e volume de produção e, por outro, aquisição de insumos e acesso a assistência técnica”, destacou.

Assista à entrevista que Alberto Ramirez concedeu à Unicopas. Ele fala sobre a importância da agricultura familiar e do cooperativismo solidário como estratégia no combate à fome e na promoção do trabalho digno e decente. (Vídeo em espanhol)

Já Lautaro Viscay, da REAF, destacou que o cooperativismo é uma grande oportunidade para superar a atual crise política, econômica, social e ambiental pela qual passa o Brasil. Isso porque, para ele, a força da cooperação consiste em distribuir as funções por todo o corpo, renunciando a organização hierárquica rígida para ativar toda uma estreita união social. “É uma oportunidade para o movimento cooperativo solidário, urbano e rural, de poder restituir sentido estratégico em uma sociedade que está procurando onde encontrar confiança, valores, contenção social e entendimento”.

Segundo Viscay, a inclusão da agricultura familiar no movimento cooperativista significa avançar para um sistema agroalimentar mais eficiente, inclusivo e saudável. “E uma agri-agência latino-americana, em colaboração com outros atores, pode ser um dos pioneiros em cooperação sul-sul no âmbito cooperativo da região”, salientou.

Assista à entrevista que Lautaro Viscay concedeu à Unicopas. Ele fala sobre estratégias para o cooperativismo solidário, o papel da mulher e das juventudes no fomento ao movimento cooperativista.

É para potencializar e fomentar experiências exitosas no campo do cooperativismo solidário e da agricultura familiar que uma agri-agência pode agir. Isso porque é voltada para o combate à pobreza, principalmente, no campo.

Conforme Gisele Obara, da ONG Trias, uma agri-agência é capaz de capitalizar fundos e causar efeitos multiplicadores. “É como se você tivesse um selo de garantia, de transparência, de trabalho em rede. Vai além de captar novos recursos porque tem o poder de convocar outros temas e atores locais”, explicou. Lode Delbare, da AgriCord, lembrou ainda que o cooperativismo solidário é uma importante ferramenta que junta os esforços das pessoas enquanto indivíduos. “Sozinhos não conseguimos fazer a diferença, mas juntos, somos capazes de transformar”.

Assista à entrevista concedida por Gisele Obara à Unicopas. Ela explica como funciona a rede AgriCord e qual a importância da constituição de uma agri-agência, especialmente, na América Latina.

Para Arildo Mota Lopes, presidente da Unicopas, estabelecer uma agri-agência, principalmente no momento delicado em que vive o Brasil, é um instrumento importante para o avanço do cooperativismo solidário. “Enfrentamos um modelo predatório. E como enfrentar esse modelo que exclui centenas de milhares de trabalhadores a trabalhadoras? O cooperativismo e a economia solidária são capazes de promover trabalho digno e decente, com inclusão e justiça social, geração de renda e respeito ao meio ambiente”.

O Seminário Sinergia Infocos AA (Agri-Agência) foi organizado pelo Infocos, pela Cresol, pela Unicafes e pela ONG Trias.

Assista a mensagem de Graciela Fernandes Quintas, da ACI Américas, enviada ao Seminário. Ela fala sobre a importância da agricultura familiar e da rede AgriCord e ainda parabeniza a Unicafes e a Unicopas pelo trabalho desenvolvido. (Vídeo em espanhol)