Organização e resistência: cooperativismo solidário enquanto instrumento de transformação social

Conjunturas políticas e econômicas do Brasil são debatidas durante Seminário Nacional do Cooperativismo e da Economia Solidária realizado em Brasília

Compromissos com o cooperativismo e a economia solidária como instrumento de organização de trabalhadoras e trabalhadores: uma perspectiva alinhada a movimentos sociais e sindicais. Este foi o tema da primeira mesa de debates do Seminário Nacional do Cooperativismo e da Economia Solidária: Formação Nacional em Incidência Política, Monitoramento e Construção de Políticas Públicas, que ocorre em Brasília (DF) até a próxima quinta-feira (23).

O seminário reúne 120 representantes do cooperativismo e da economia solidária de 25 estados e do Distrito Federal. O objetivo é fortalecer a identidade, construir estratégias conjuntas e promover um intercâmbio de experiências entre as centrais afiliadas à União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias (Unicopas). O seminário faz parte das atividades desenvolvidas pelo projeto “Fortalecimento da Rede Unicopas”, financiado pela União Europeia.

Para contribuir com os processos dessa construção conjunta, Gilmar Geraldo Mauro, da Via Campesina, e Ari Aloraldo do Nascimento, secretário de Organização e Política Sindical da CUT Nacional, compartilharam suas experiências e fizeram uma análise das conjunturas econômica e política do país.

Gilmar destacou os atuais desafios pelos quais a classe trabalhadora enfrenta. Dentre eles estão a reorganização produtiva, as novas tecnologias e a predominância do capital financeiro. Para ele, “entramos uma nova lógica de acumulação do capital com graves consequências para toda a sociedade. A crise econômica não ocorre somente no Brasil, mas em todo o mundo”. Ele defende ainda que “se quisermos uma sociedade solidária, temos de plantar a solidariedade entre nós”, salientou Gilmar. Ela ainda falou sobre os desafios enfrentados pelas mulheres e pelas juventudes, em especial quando o assunto é violência. Assista a alguns momentos da fala de Gilmar Mauro.

Na mesma perspectiva, Ari destacou que “o mundo está sendo pensado para deixar a gente cada vez mais distante”. Afinal, qual modelo de desenvolvimento nós queremos? “Nós não estamos dentro desse modelo de sociedade. Precisamos de um modelo que nos inclua”. Ari do Nascimento, ainda destacou a importância do papel das juventudes. “Como aliamos a experiência com o gás das juventudes?”, questionou. Assista ao vídeo.

Já Arildo Mota Lopes, presidente da Unicopas, reforçou o papel do cooperativismo e da economia solidária na organização das trabalhadoras e dos trabalhadores. “O cooperativismo e o sindicalismo são coirmãos que nascem lá atrás para fazer resistência a este modelo de desenvolvimento que prevalece. Mas existem outras formas de organizar a produção e desde lá de trás somos parceiros históricos. Não podemos perder isso durante a caminhada”.

Identidade econômica

A segunda mesa de debates do Seminário Nacional do Cooperativismo e da Economia Solidária trouxe perspectivas para a construção da identidade econômica da Unicopas.

Para contribuir no processo de discussão para responder a questões de como o cooperativismo e a economia solidária se apropriam das condições do mercado para criar condições justas para os trabalhadores e trabalhadoras, Antonino Novaris, secretário de Política Agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Dione Manetti, assessor da Unicopas, e o deputado federal Assis Miguel do Couto, destacaram pontos prioritários para a construção do posicionamento da Unicopas.

“Este é um grande momento para termos claro qual é o nosso papel. Já sabemos que os grandes vão se organizar com os grandes e que não querem nós junto com eles. E nós, os pequenos? Vamos juntos fazer resistência, produzir e comercializar nossos produtos em conjunto”, afirmou Antonino.

Já para Dione Manetti, a construção de um novo modelo de desenvolvimento passa, necessariamente, pela disputa do poder político e econômico e pela disputa nos campos da cultura e da comunicação. “Disputar a economia nos traz muitos desafios. Precisamos ter viabilidade econômica, gestão hábil e eficiente, produtos de qualidade e competitivos. Precisamos identificar e aproveitar as oportunidades do mercado e nos apropriar de técnicas de gestão e das novas tecnologias”, pontuou. Tudo sem perder de vista os valores do cooperativismo e da economia solidária, como a autogestão, a transparência e a organização na distribuição do poder, os resultados compartilhados, a responsabilidade social e ambiental e a promoção da qualidade de vida dos trabalhadores e das trabalhadoras. “Esta iniciativa da Unicopas de reunir quatro grandes centrais que, apesar das diferenças, compactuam dos mesmos valores, é atual e revolucionária porque unifica nossos setores produtivos”.

O deputado federal Assis Miguel do Couto destacou, ainda, a chegada de uma nova agenda agroalimentar que, de acordo com ele, está pautada nas seguintes premissas: o agronegócio não é hegemônico, a agricultura familiar e a segurança alimentar e nutricional estão reconhecidas enquanto políticas públicas do Estado brasileiro, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Além disso, há um movimento crescente de novos hábitos alimentares em todo o mundo. “O governo pode diminuir a intensidade dessas políticas, mas não pode acabar com elas”, observou.

Ao final de cada mesa, os participantes do Seminário Nacional do Cooperativismo e da Economia Solidária: Formação Nacional em Incidência Política, Monitoramento e Construção de Políticas Públicas, reuniram-se em grupos de discussão para construírem propostas e estratégias conjuntas de atuação para a Unicopas.

Cooperativismo e economia solidária: estratégias de inclusão social e desenvolvimento sustentável para o Brasil. Clique aqui e veja como foi a abertura do Seminário Nacional na Câmara dos Deputados 

por Thays Puzzi, assessoria de Comunicação da Unicopas