Como cooperativas da agricultura familiar conseguem manter a produção ativa durante a pandemia?

“Quanto mais vemos a crise do capital, mais a gente sente quão importante é o cooperativismo solidário", Fátima Torres, presidenta da Unicafes RN (à esquerda da foto)

A experiência vem do Rio Grande do Norte. Com a chegada da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no Brasil, muitos agricultores e agricultoras familiares que escoavam a produção basicamente em feiras e acessando políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PAA), viram, da noite para o dia, a realidade mudar drasticamente.

Políticas de isolamento social, essenciais para a contenção da transmissão da doença, fecharam feiras e paralisaram programas governamentais essenciais para a manutenção da sustentabilidade da vida no campo, principalmente, do pequeno produtor, que é o grande responsável pela produção da maioria dos alimentos que abastecem as famílias brasileiras.

“Como continuar trabalhando, produzindo e entregando alimentos para a região tendo de atender às regras de distanciamento social?”. Esta foi a primeira pergunta que Fátima Torres, presidenta da Unicafes (União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária) do Rio Grande do Norte se fez quando viu os principais meios de comercialização de agricultoras e agricultores no estado ficarem suspensos.

A Unicafes do Rio Grande do Norte congrega, atualmente, 11 cooperativas de todo o estado e conta com cerca de 1.300 famílias associadas. A entidade, que mantem um espaço de comercialização da agricultura familiar ao lado do Ceasa da cidade de Natal, a Cecafes, continuou funcionando – pois não se trata daquelas feiras livres que acontecem nas ruas da cidade -, porém com horário reduzido e atendendo a todas as recomendações de distanciamento e de saúde para a não proliferação do vírus.

Mas o grande salto de comercialização neste período foram as compras virtuais. Fátima contou que muitos clientes antigos, principalmente os mais idosos, passaram a fazer as encomendas via aplicativo de conversa. “Já tínhamos esta opção de venda com a nossa loja virtual, mas não era muito utilizada. Antes da pandemia vendíamos cerca de 50 cestas por semana por meio da nossa loja virtual. Com a pandemia, as vendas chegam a 50 cestas por dia”, destacou Fátima. Hoje, a central de cooperativas disponibiliza duas equipes que ficam responsáveis pela montagem e entrega das cestas da agricultura familiar que variam de R$ 50 a R$ 200.

Além da potencialização das vendas on-line, paralelamente, Fátima relatou que ocorriam as negociações com o governo estadual para a inclusão de produtos da agricultura familiar nos kits do PNAE fornecido às famílias dos estudantes da rede pública de ensino. “Ao todo, foram 200 mil kits distribuídos e conseguimos incluir três produtos da agricultura familiar nos kits: polpa de frutas, arroz e feijão”, comemorou a agricultora. De acordo com ela, foi a primeira vez o que governo comprou feijão da agricultura familiar, por exemplo. “Isso foi um resultado muito positivo, pois abre mais uma porta para a nossa comercialização”.

Outras ações emergenciais também foram articuladas. Uma parceria com o Serviço de Apoio a Comunidades Rurais e Urbanas da Dioceses de Natal resultou na distribuição de 1.800 cestas básicas com vários itens da agricultura familiar. Além do feijão, foram adquiridos peixe seco, batata e macaxeira (mandioca). Além desta, uma ação organizada pela Rede Xique Xique em parceria com a Fundação Banco do Brasil distribuiu outras 4 mil cestas com 12 produtos da agricultura familiar.

Famílias recebem cestas com produtos da agricultura familiar durante pandemia

“Quanto mais vemos a crise do capital, mais a gente sente quão importante é o cooperativismo solidário. Nós ainda não reconhecemos a fortaleza que somos e o potencial que temos. A crise afetou drasticamente as cidades, mas as cooperativas continuaram. Ficou provado que nós não estamos tão vulneráveis ao capital, pois temos diversidade de produção e fortalecemos o desenvolvimento local”, ressaltou Fátima.

Por um Brasil Cooperativo e Solidário: mais trabalho e renda

Foi para fomentar o debate em torno do cooperativismo e da economia solidária enquanto instrumentos para a geração de trabalho e renda, em especial, em tempos de crise, como a que vivemos com a pandemia do novo coronavírus, que a Unicopas lançou uma campanha digital de sensibilização para reafirmar o potencial do cooperativismo solidário enquanto estratégia de transformação social.

O objetivo é contar histórias das suas centrais afiliadas que mostram o cooperativismo e a economia solidária enquanto geradores de oportunidades de trabalho e renda, principalmente às populações mais vulneráveis, além de retratar o poder da solidariedade na construção de uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna. A Unicafes é uma das nossas centrais afiliadas.

A campanha ‘Por um Brasil Cooperativo e Solidário: mais trabalho e renda’ faz parte das atividades realizados pelo projeto “Fortalecimento da Rede Unicopas”, co-financiado pela União Europeia.

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